Segunda-Feira, 19 de Maio de 2025

Hasta siempre, Mujica!


Publicada em 16/05/2025 às 10:37 - Atualizada em 16/05/2025 12:08


Pepe Mujica

Por Saulo Oliveira em Vivendo e cronicando

Eu acho que já passou da hora de pararmos pra pensar com a profundidade devida o significado de uma existência como foi a de Pepe Mujica.

Não falo apenas do presidente que recusou o palácio, ou do homem que andava de Fusca, ou do que doava quase 90% do seu salário presidencial e que cultivava flores enquanto governava um país. Isso tudo é símbolo, claro. Falo também, e principalmente, do silêncio dele.

Falo da profundidade de quem sobreviveu a seis tiros em confronto armado, a treze anos de prisão como refém da ditadura uruguaia em um período em que a América Latina ardia sob regimes militares e a tortura era uma linguagem cotidiana. Mujica saiu disso tudo sem pedir revanche, falando de amor, de liberdade e de paz interior. Isso, sim, é mais subversivo do que qualquer tentativa de golpe ou de opressão aos opositores.

Mujica mostra que a dignidade não tá no cargo que ocupa e nem na ideologia que se repete como paixão despolitizada, mas em como se atravessa a vida. Um homem que viu a escuridão de perto e, em vez de embrutecer, decidiu florescer. Literalmente.

Em tempos em que tanto se grita, Mujica toca pelo que sussurra. Pelo que ele escolheu não dizer. Pelo exemplo silencioso de quem entendeu que a vida é curta demais para ser desperdiçada com ódios e ambições desmedidas.

Numa época em que políticos se blindam com carros pretos, desvios de aposentados para benefícios egoístas e retórica vazia, ele seguia abrindo o portão de casa com as próprias mãos. Quando  diz que “quem gosta de dinheiro deve ser afastado da política”, ele não fala como um ideólogo, mas como quem já viu o poder por dentro e se recusou a ser moldado por ele.

Sem alarde, sem verniz, sem máscara. Ele é o lembrete de que a revolução mais profunda começa por dentro e que há homens que mesmo calados mudam tudo ao redor.

Hasta siempre, Mujica!


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Sobre o autor
Saulo Oliveira
É quitundense por sorte, escreve crônicas por interesse no cotidiano e mantém em dia seu desinteresse pelo rotineiro. Toca violino, flerta com as artes e alicia palavras para agregar ao precário vocabulário.
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