Domingo, 22 de Dezembro de 2024

Budapeste, Chico Buarque - Resenha


Publicada em 13/04/2022 às 10:00 - Atualizada em 06/11/2024 15:10



Por Saulo Oliveira em Vivendo e cronicando

     Outro dia acordei lembrando do livro “Budapeste”, de Chico Buarque. José Costa, o personagem, é um escritor fantasma, daqueles que escreve mas não assina. Até sente prazer ao ver pessoas elogiando suas escritas sem saberem que ele quem escreveu. É uma vaidade particular.

     Voltava de uma conferência para escritores anônimos em Istambul quando seu voo teve que fazer uma parada inesperada em Budapeste. Ficou intrigado com a língua húngara e com o pão de abóbora que comeu no café da manhã.

     Já estando no Rio, onde morava, decidiu que queria voltar a Budapeste e isso fez, pois há tempo vinha sonhando com aquela língua. Foi dar materialidade ao sonho. Conheceu Kriska, uma professora de húngaro, que disse que aquele idioma não se aprende nos livros e ele acreditou. O húngaro é "a única língua do mundo que o diabo respeita". Mergulhou de cabeça na língua, no pão de abóbora e em Kriska. Tudo aconteceu. "Por um segundo imaginei que ela não fosse uma mulher para se tocar aqui ou ali, mas que me desafiasse a tocar de uma só vez a pele inteira". Alternava os dias entre o Rio e Budapeste. No Rio ficava pelo trabalho; em Budapeste, pelo fervor da vida.

     Aos poucos foi esquecendo da cidade de origem e se instalando cada vez mais na cidade do voo imprevisto, do romance impremeditado e da vida inesperada. Já não era mais o José Costa, era, agora, o Zsoze Kósta. Se entregou ao vão fortuito e deixou que a lei da probabilidade o guiasse naquela jornada desconhecida, "O que para mim era sempre uma sensação boa, era como se a vida fosse partir do zero".

 

- Para livre interpretação


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Sobre o autor
Saulo Oliveira
É quitundense por sorte, escreve crônicas por interesse no cotidiano e mantém em dia seu desinteresse pelo rotineiro. Toca violino, flerta com as artes e alicia palavras para agregar ao precário vocabulário.
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