Domingo, 22 de Dezembro de 2024

Amor, uma escola de humildade


Publicada em 04/05/2024 às 14:21



Por Esther R. A. Melo em Fé nas entrelinhas

 

                   Há pouco menos de um mês, eu e meu noivo atingimos a marca de quatro anos de namoro. Desde que noivamos tenho buscado ser uma mulher mais sábia e digna do convite que recebi: casar-me com ele – ou, de forma implícita, tornar-me uma, assumindo o papel de auxiliadora e estando sob a mesma missão que ele.

            No decorrer deste tempo (sete meses, mais ou menos), tenho buscado no Senhor sabedoria para amá-lo corretamente, afinal, aprouve ao Senhor conceder a mulher o dom de gerar vida, não somente à semente que é plantada em seu ventre no momento oportuno, mas vida ao lar e, igualmente, ao objeto de sua afeição, o homem o qual decididamente resolveu se casar. Não é à toa que encontramos tantas admoestações nas Escrituras quanto à mulher insensata e/ou adúltera, sendo uma das admoestações mais conhecidas a passagem do capítulo 14 de Provérbios: “A mulher sábia edifica a sua casa, mas com as próprias mãos a insensata derruba a sua. – v. 1.

            Então, como poderei escapar da insensatez? Eis uma pergunta que permeia o meu coração, embora até meados de fevereiro este questionamento fosse mais presente numa  intensidade maior. Fugindo de conteúdos “instagramáveis”, me propus a seguinte meta: ler um livro por mês, até a data do casamento, sobre a missão da mulher e o significado do casamento e da vida comum do lar sob uma perspectiva cristã. Já na primeira leitura encontrei uma resposta que acalmou um pouco o questionamento descrito acima.

            A jornada entre um homem e uma mulher é um caminho incerto, repletos de boas surpresas se soubermos contemplarmos o outro com verdadeira caridade e amor, visando da forma mais genuína possível o seu bem. Se não admiramos e desejamos o Céu de forma profunda e verdadeira a para quem amamos, quão raso e efêmero é o nosso “amor!

            Para amarmos alguém além de nós mesmos, paradoxalmente precisamos repousar o olhar com muita sinceridade para a nossa alma: quais ajustes precisamos realizar para não afetar o outro de forma destrutiva? Quais virtudes precisamos aprimorar e/ou adquirir? Quais vícios precisamos lutar para que se dissipem definitivamente? Quem precisamos nos tornar para sermos um manancial de vida, e não de morte, para a pessoa que se tornará uma só carne conosco? Sem dúvida alguma, é urgente adquirir sabedoria do Alto para discernir tais questões.

            Quanto à missão da mulher, investigando com um olhar bíblico, é perceptível que sobre ela há uma maior responsabilidade no que diz respeito à vida comum do lar. Edificar significa erguer, levantar, construir algo: a mulher constrói a sua casa, existe sobre ela o “poder” de tornar a atmosfera do lar convidativa para o homem e para os filhos. A mulher, pelo reconhecimento das virtudes e falhas, tem a aptidão de levantar aquele a quem ama. Assim, como tornar isto uma realidade? Bom, se há exortações tão explícitas na bíblia sobre o tema, isto só pode significar uma coisa: é possível.

            Voltando ao questionamento inicial, de como amá-lo corretamente, considerando que não há mulher perfeita saindo do ponto de partida, bem como não há homem perfeito, e, ainda mais, que o casamento é uma aventura a dois, onde estes desbravarão o caminho que escolheram trilhar juntos, com responsabilidades distintas, fé, sacrifício mútuo, respeito e amor, a resposta é que não há uma resposta exata. As exortações existem para que se tornem uma realidade, mas a execução (quanto a forma) varia de cada pessoa, levando em conta a circunstância particular de cada um e do casal.

            No livro “Conselhos para uma recém-casada”, de Alice Von Hildeband, ela afirma que a busca para amar o outro de forma correta, digna, já é propriamente a resposta, pois demonstra um anseio por melhora interior e exterior, que intenta o bem de quem amamos. Nas palavras de Alice:

Muitas pessoas se julgam moralmente impecáveis por jamais terem assinado alguém ou roubado um banco. Seu horizonte espiritual e moral termina aí.

No entanto, quanto mais amamos, mais sensíveis nos tornamos, inclusive às nossas pequenas faltas, que, embora perceptíveis a olho nu, se tornam visíveis sob a lente de aumento do nosso amor por outra pessoa. Quantas oportunidades perdemos de dizer a palavra certa ou de antever a dificuldade do outro e ajuda-lo quando ele precisa?

Quem ama de verdade descobre que o seu amor é imperfeito e lamenta esse fato; queremos que o nosso amor seja forte como uma torrente, claro como água pura, ardente como fogo, terno como a brisa leve. Mas, na verdade, apenas quando o amor atinge o nível supernatural, se torna uma partilha do amor de Cristo, é que se transforma naquilo que deseja ser.

[...]

O amor é uma escola de humildade [...] Tudo na vida deve ser uma escola do amor.

     As palavras de Alice acalentaram o meu coração, pois não aprenderei a amá-lo corretamente numa série de direções pré-ordenadas, ou com uma errônea interpretação da aplicação das admoestações bíblicas; aprenderei a amá-lo, da forma mais perfeita, dia após dia, buscando de forma individual a minha santificação, reparando os meus erros e colhendo os frutos dos meus acertos. Entendendo, com humildade, as necessidades do outro, bem como as minhas. E, por fim, aprende-se a amar amando, com tudo o que isso comporta – e só descobrimos trilhando o caminho, às vezes cambaleando, noutras correndo, e, por vezes, contemplando o caminho com muita paz, alegria e esperança, para, um com o outro – e com o auxílio do Espírito Santo – desbravarem o caminho que tem diante de si.  

“Há três coisas que são maravilhosas demais para mim; na verdade, há quatro que eu não entendo: o caminho da águia no céu, o caminho da cobra na rocha, o caminho do navio no meio do mar e o caminho do homem com uma moça.” Provérbios 30:18,19

 

      Com carinho, 

Esther R. A. Melo

(Texto escrito em fevereiro de 2024.)


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Sobre o autor
Esther R. A. Melo
Cristã, escritora, advogada. Especialista em Direito Civil. Secretária-Geral da Comissão Especial de Direito e Liberdade Religiosa. Vivendo pela fé – e escrevendo sobre isto.
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