Sexta-Feira, 17 de Maio de 2024

O que você queria ser quando crescesse ?


Publicada em 01/12/2020 às 20:00 - Atualizada em 01/12/2020 20:05


Sonho Imagem

Por Saulo Oliveira em Vivendo e cronicando

     Uma das perguntas mais marcantes da infância tem ficado, para muitos, sujeita ao sabor dos ventos e sob a dureza da realidade vem sido substituída por “O que você faz da vida ?”. A resposta para essa pergunta não se aplica, pois o que se responde, em sua maioria, equivale à pergunta “O que a vida tem feito com você ?”. A verdade da sobrevivência tem subjugado sonhos e transformado o “desejo de ser” em meros devaneios da existência. Em 2002, Mano Brown lamentava que “Quando pivete, meu sonho era ser jogador de futebol. Vai vendo! Mas o sistema limita nossa vida de tal forma que tive que fazer minha escolha, sonhar ou sobreviver”.

     Nesse emaranhado de alternativas, todas menos dolorosas e mais cômodas, alimentadas cada uma delas por uma ideia de que serão temporárias, mas que aos poucos vai consumindo todo o tempo da vida, deixamos de seguir o caminho para onde estávamos indo e passamos a não viver a vida que queríamos.

     Sob esse dilema, no século 49a.c, quando Roma ainda era república, às margens do rio Rubicão estava Júlio César. Passou a infância e parte da vida adulta se destacando na legião de Crassus, lutando como poucos, inspirando soldados e conquistando a admiração dos romanos. Suas habilidades o levou ao posto de general. Na oportunidade articulou a maior aliança política da época, o primeiro triunvirato, unindo dois inimigos mortalmente poderosos (Crassus e Pompeu, o grande) e se pondo ao centro. Agora era cônsul, o maior cargo que alguém poderia ocupar. Novas estratégias de manutenção de poder surgiram e essa reorganização o levou a pensar que sendo governador das terras que estavam além do rio Rubicão seria mais alinhado com o interesse de todos. César pensava grande, no entanto. Ser governador da Gália estava aquém da sua disposição e do seu interesse. Queria mesmo era ser governador de toda a Roma. Seu nome estava para inspirar títulos imperiais - Césares, Kzar, Kaiser. Foi governar a região da Gália, mas todo passo que dava era objetivando uma única direção. Quis se candidatar à Cônsul novamente, mas, segundo a lei que criaram enquanto ele estava em Gália, só quem morava em Roma poderia se candidatar. Era hora de dobrar suas apostas. Conquistou a oportunidade e quando ela veio não hesitou. Decidiu atravessar o Rubicão com todas as suas tropas e conquistas, títulos e interesses, forças, disposição acumulada e marchou rumo à Roma. O que ele queria estava agora em suas mãos e como consequência abriu espaço para o que depois veio ser um dos maiores impérios que o mundo já viu: o Império Romano.

     Deixar que a ocasião alheia mude a todo instante os rumos da vida é admitir insuficiência frente aos próprios sonhos. Ser flexível é ser dobrável, mas não quebrável, ensinou César. Pode ser que quando nada mais seja palpável e sobrar apenas o movimento do pensamento e quando o “eu inicial” se encontrar com o “eu final”, a vida comece a pedir o fechamento da conta e algumas perguntas comecem a surgir. No livro de Mateus, 25-14, essas perguntas são sentenciosas: “O que fizeste com os teus talentos ? O que fizestes com tuas habilidades ? Não usou-as, por isso tivestes uma vida que não era a tua vida".

     Como o título sugere que o tempo já passou mais do que deveria, volto e tomo a liberdade de refazer a pergunta: “O que você quer ser quando crescer ?". Eu poderia continuar e lhe dizer o que fazer da vida, mas não tenho a intenção de ser coach. As perguntas já são dadas pela própria existência e respondê-las é um ato de coragem que só cabe a você, caro(a) leitor(a).

 

Desejo um dezembro iluminado!


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Sobre o autor
Saulo Oliveira
É quitundense por sorte, escreve crônicas por interesse no cotidiano e mantém em dia seu desinteresse pelo rotineiro. Toca violino, flerta com as artes e com o barulho das ondas noturnas do mar. É acadêmico de administração.
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