Realizado na cidade de Junqueiro, o projeto incentiva a prática da bocha adaptada, que auxilia no desenvolvimento da coordenação motora e raciocÃnio dos atletas
Por Globo Esporte
Publicada em 29/10/2016 às 14:41
Há um ano, um projeto social na cidade de Junqueiro, no agreste alagoano, ajuda no tratamento de pessoas com paralisia cerebral. Por meio do esporte, a bocha adaptada, os atletas Felipe, Gustavo e Carlos Miguel desenvolvem a coordenação motora, além de serem trazidos para o âmbito social. A proposta foi idealizada pela professora de educação física Bianca Costa.
– Tira a pessoa do ócio, de dentro de casa, da segregação e traz ela para a sociedade, traz ela para estar incluída, para fazer parte do contexto social – disse a professora.
A terapia é coordenada pela professora. Primeiro os atletas fazem o aquecimento, com o alongamento da musculatura e os parentes podem ajudar. Após as bolas serem distribuídas, os jogadores devem mirar na bola branca que fica na quadra e fazer com que as outras bolas cheguem perto dela. O arremesso é feito à distância.
– Existe todo um contexto de raciocínio, de destreza, de equilíbrio, lateralidade, de espaço que eles têm que ter. São vários os fatores que favorecem para que o aluno, o atleta, a pessoa com deficiência, esteja realmente participativo do contexto social.
Os treinos são feitos duas vezes por semana e duram entre 1h e 1h30. Além da bocha, os atletas também realizam outras dinâmicas, como arremessar uma bola dentro de um círculo na quadra. Com isso, os meninos precisam se concentrar, mirar o alvo e calcular as força do arremesso. Essas ações desenvolvem a coordenação motora, o raciocínio e estimulam os neurônios. Desde que foi iniciado, o projeto proporciona avanços para os atletas.
– A gente observou que eles tiveram uma melhora significativa na questão motora, na questão cognitiva, mas eu acho que o mais importante é a emersão social deles, a socialização, a interação deles. É algo muito gratificante – disse o secretário de saúde de Junqueiro, Leonardo Powell.
Segundo a mãe de Gustavo, o filho ainda sente um pouco de dificuldade para movimentar o corpo e falar, mas o seu raciocínio não foi afetado. Tanto que o atleta passou no vestibular para Direito, mas não pode cursar pois ainda está concluindo o ensino médio. Para ela, a bocha é muito importante na vida do filho.
– Ele não segurava uma caneta, hoje ele já pega. Ele usava o computador com dificuldade, hoje ele já usa melhor, coloca nas pernas, ele consegue usar o mouse. Tudo através da bocha.
O primo de Felipe, Lucas Santos, conta que antes o atleta dependia da ajuda dos outros para poder se locomover, mas agora consegue fazer as coisas de forma independente.
– Ele de vez em quando sai no carro e quando não fazia bocha, a gente tinha pegar ele e colocar no braço para colocar dentro do carro. Depois que ele começou a fazer a bocha, ele já consegue ficar em pé e entrar no carro, sem o auxílio de ninguém.
Os três atletas deixam a lição de que, quando se luta para alcançar um objetivo, tudo é possível. Basta acreditar.
– Tem pessoas que não acreditam no deficiente, tem pessoas que acham que o deficiente deve ser jogado, esquecido, só que a gente não deve ser esquecido – ressalta o atleta Carlos Miguel.