Sexta-Feira, 10 de Janeiro de 2025

Mortes de tartarugas crescem e preocupam órgãos ambientais em Alagoas

Geralmente o motivo dos óbitos têm a ver com a interferência do homem na natureza


Por GazetaWeb Maragogi
Publicada em 25/07/2016 às 09:26


Tartaruga surgiu morta na Praia da Laje, em Porto de Pedras, com marcas de perfuração (Foto: Associação Peixe-Boi)

Cenário de belas praias, de mar sereno e de águas mornas. Assim é o Litoral Norte de Alagoas. Em seus estuários resguardados pela Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais, maior Unidade de Conservação Marinha (UCM) do Brasil, espécies ameaçadas de extinção encontraram refúgio, a exemplo do peixe-boi-marinho.

Para as tartarugas, porém, o ambiente tem se mostrado hostil. É cada vez maior o número desses animais que aparecem mortos nas praias, de Maceió a Maragogi. Na capital, o Instituto Biota de Conservação já registrou o encalhe de 50 tartarugas só este ano. Apenas três estavam com vida.

Num raio de 10 quilômetros de costa, entre as praias do Patacho, em Porto de Pedras, e São Miguel dos Milagres, 26 animais surgiram mortos de dezembro do ano passado até este mês. Em Maragogi, em 2016, ao menos dez tartarugas encalharam sem vida nas praias do município, considerado o segundo destino turístico mais procurado do Estado.

Mas, o que estaria provocando as mortes desses animais? “Não estamos diagnosticando a causa mortis, mas o grande causador de encalhes são as interações com a pesca”, acredita o biólogo Bruno Stefanis, diretor executivo do Instituto Biota.

De acordo com ele, geralmente os óbitos estão relacionados à interação antrópica: têm a ver com a interferência do homem na natureza, seja por pesca acidental ou lançamento de lixo nos mares, o que provoca a ingestão de resíduos sólidos e, consequentemente, a morte desses animais.

“Temos que buscar o equilíbrio. Não somos contra a pesca ou quaisquer outras atividades, desde que não sejam prejudiciais ao meio ambiente para o benefício de poucos”, disse Bruno Stefanis.

No dia 14 de julho, uma tartaruga-verde (Chelonia mydas) com um metro de carapaça foi encontrada morta na Praia da Laje, litoral de Porto de Pedras.

“Recebemos a ocorrência por volta das 12 horas que tinha uma tartaruga viva encalhada na Praia da Laje. Quando chegamos ao local, observamos que ela estava morta, com marcas de rede de pesca e perfurações bem profundas, provavelmente causadas pela pessoa que tentou soltá-la da rede”, revelou a bióloga Flávia Rego, presidente da Associação Peixe-Boi.

Embora haja a ocorrência de todas as cinco espécies em Alagoas, a tartaruga-verde e a de pente (Eretmochelys imbricata) são as mais comuns por aqui. “Nossas praias e corais são visitados constantemente por tartarugas marinhas à procura de alimento e de lugar para reprodução, para desovar”, acrescentou Flávia.

Projetos e aplicativo

Para entender o que está acontecendo com as tartarugas no Litoral Norte de Alagoas e propor medidas de proteção, a APA Costa dos Corais, por meio do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), firmou convênio com o Instituto Biota (BIOTA-Mar), que atua entre Maceió e a Barra de Santo Antônio. E a Associação Peixe-Boi, que ficou responsável pelo monitoramento das praias de São Miguel dos Milagres a Porto de Pedras.

De acordo com o chefe da APA Costa dos Corais, Iran Normande, o objetivo é mapear os encalhes e identificar as possíveis causas. A iniciativa conta com o apoio da Fundação Toyota do Brasil e SOS Mata Atlântica. “Sem dados sistematizados, corremos o risco de não propor medidas realmente efetivas”, enfatiza Normande.

De acordo com ele, a ideia é expandir o projeto aos litorais de Japaratinga e Maragogi. Para isso, o ICMBio está buscando uma instituição com perfil para realizar o monitoramento das praias. Normande informa, ainda, que em outubro deste ano, a APA Costa dos Corais promoverá o primeiro seminário de pesquisa da Unidade de Conservação.

“Na oportunidade, discutiremos com pesquisadores de todo o País medidas para conservação de tartarugas e de outras espécies”, destacou.

Bruno Stefanis explica que o Projeto BIOTA-Mar foi iniciado este mês por meio do convênio com o ICMBio e tem como objetivo fazer o monitoramento participativo e de praia da porção Sul da APA Costa dos Corais.

“Vamos fazer oficinas e lançar um aplicativo para a população nos ajudar a monitorar nosso litoral”, revelou o diretor executivo. Já a iniciativa da Associação Peixe-Boi chama-se Projeto de Monitoramento Comunitário da Biodiversidade.

“O projeto surgiu justamente da falta de dados. A Associação é sempre chamada a explicar toda vez que um turista reclama dizendo ter avistado uma tartaruga morta. Então, resolvemos fazer esse levantamento. Para isso, precisamos capacitar pessoas da comunidade”, disse Flávia Rego.

O chefe da APA Costa dos Corais esclarece que, caso encontre uma tartaruga viva, o cidadão deve manter contato com o Batalhão de Polícia Ambiental (BPA) ou com o Instituto do Meio Ambiente (IMA).

“Em se tratando de animal morto, depende do local. Aqui em Porto de Pedras e São Miguel dos Milagres, a Associação Peixe-Boi atende. Em Maceió é a SLUM a responsável. Em alguns casos é mais uma questão de saúde pública e, como são muito frequentes, é impossível mandar equipes sempre que aparece uma tartaruga morta”, esclareceu Normande.


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