Filme bem cotado ao Oscar reconstrói investigação sobre pedofilia na Igreja; Assista trailer
Por G1
Publicada em 05/01/2016 às 11:50 - Atualizada em 05/01/2016 12:59
O herói entra como um raio no tribunal, furioso e determinado na sua missão. Falta um segundo para uma porta se fechar e esconder um terrível segredo. O tempo acabou. Estivesse Mark Ruffalo em “Os Vingadores”, no seu papel de super-herói de verdade (ou de mentira, na verdade), seria moleza: era só ficar verde e quebrar tudo. Em “Spotlight – Segredos revelados” ele tem que se resignar com o drama da vida real: um funcionário público fecha a porta e avisa: “A repartição fecha 17h, amigo, volta amanhã”. Quem nunca?
Este é o tipo de cena de ação que você vai ver em “Spotlight”: visitas ao fórum, pesquisas na biblioteca pública, reuniões de trabalho. Em certo momento, uma trilha de suspense acompanha a criação de uma tabela de Excel. É a vida. Baseado em fatos reais, o filme mostra o trabalho de uma equipe especial de talentosos jornalistas do jornal “The Boston Globe”, que mostrou em 2002 como a Igreja Católica acobertou durante décadas a pedofilia de padres. A tragédia que levou vítimas a traumas e suicídios é retratada de maneira sóbria, sem exageros.
Vai, time!
É um afiado trabalho de equipe que faz tudo funcionar bem – o filme e a investigação. O provocador é Marty Baron (Liev Schreiber), judeu que chega de Miami para comandar o jornal de Boston. O olhar forasteiro vê indícios de crimes da Igreja ignorados há décadas na cidade. Ele dá a tarefa à equipe de repórteres especiais Spotlight, chefiada por Walter Robinson (Michael Keaton). Sacha Pfeiffer (Rachel McAdams), Mike Rezendes (Mark Ruffalo) e Matt Carroll (Brian d’Arcy James) resgatam uma história que fica cada vez mais tenebrosa.
A dinâmica do elenco, com atuações na medida certa – em escala que vai do ponderado chefão Marty Byron ao impulsivo repórter Mike Rezendes – é o trunfo de “Spotlight”. O longa é desde já bem cotado para o Oscar de melhor filme. Já nas categorias de atores principais, não há no elenco um franco-favorito. Não é incoerência, mas resultado do trabalho bem dividido, sem estrela única, comandados pelo diretor Tom McCarthy. Vale notar o impressionante salto de McCarthy após o fracasso “Trocando os pés”, com Adam Sandler.
Jornalismo vem com Deus
A omissão da elite de Boston quanto aos abusos dos padres passou pela redação do “Boston Globe”. Não se trata de transferir a santidade da Igreja para o jornal. Mas é inegável que o filme faz uma ode ao jornalismo e defende sua função social. A crise do setor, com queda de audiência e necessidade de reconquistar leitores, é mencionada no filme. Mas ele ainda deixa claro que a figura do jornalista independente e corajoso ainda pode ser heróica.
Uma redenção da profissão em tempos difíceis pode ajudar “Spotlight” a ganhar a simpatia dos críticos – jornalistas, afinal. Já o público pouco familiarizado com a atividade pode ficar perdido entre as funções da equipe e do contato cada vez mais complexo com suas fontes. É difícil, no entanto, não ser sensível ao tema denunciado: a violência de padres contra crianças. Tom McCarthy não troca os pés pelas mãos ao tratar a tragédia sem sensacionalismo. Só a existência de padres pedófilos e bispos omissos basta para deixar qualquer um verde de raiva.