Justiça aceitou denúncia do MP-AL contra professor aposentado acusado dos crimes de injúria, ameaça e perseguição; defesa alega inocência. Ainda não há data para o julgamento.
Por G1 Alagoas - Heliana Gonçalves
Publicada em 20/04/2022 às 17:28
O jovem Luís Felipe Mesquita falou ao g1 nesta quarta-feira (20) sobre o processo contra o professor aposentado Lauro Farias Júnior, que se tornou réu pelos crimes de injúria racial, ameaça e perseguição. Embora ainda não haja data para o julgamento, o jovem negro que denunciou os crimes vê o recebimento da denúncia como "um passo muito grande para que seja feita justiça".
"Essa etapa é uma das mais esperadas por mim. A sensação é de que eu estou voltando a respirar. Me tirou um peso muito grande das costas. É como se toda luta, todo grito, todo pedido de socorro foi acatado, foi ouvido. O sentimento que tenho agora é de alívio, é um passo muito grande para que seja feita justiça", afirmou Luís Felipe.
O advogado que responde pela defesa de Lauro Farias, Thiago Dória, disse ao g1 que o professor é inocente e que não há provas dos crimes pelos quais seu cliente é acusado (leia mais aqui).
De acordo com a denúncia feita à polícia em novembro de 2021, os crimes aconteceram durante 4 meses, durante o período em que o jovem trabalhava em uma loja de artigos esportivos no Parque Shopping, em Cruz das Almas. Após o ocorrido, ele se desligou da empresa.
Luís Felipe conta que, como não havia banheiro dentro da loja, precisava sair para usar o banheiro do shopping, assim como também precisava deixar a loja para comer. Ele afirma que era nessas ocasiões que agia o professor Lauro, frequentador assíduo de um café que fica próximo à loja.
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"Ele me chamava de macaco, que era o amigo macaco dele da Centauro, porque ele também era cliente da loja", lembra o jovem.
Felipe diz que tentou conversar com o professor aposentado para entender os motivos, mas que não conseguia. "Nesses momentos de agressão, meu corpo travava e eu só conseguia chorar. E como ele via que eu estava com medo, ele aumentava as agressões".
Para a vítima, o limite foi o dia em que teve seu cabelo puxado e ouviu do professor a frase "se eu tivesse fósforo, eu tacaria fogo em você". Foi após esse episódio que ele resolveu levar o caso à polícia.
Durante os meses que enfrentou o problema, Felipe chegou a se questionar sobre seu papel na sociedade. "Eu era uma pessoa super aceitável, que sabia quem eu era. E em algum momento do ocorrido, eu me perdi. Eu deixei as palavras e o que ele narrava ao meu respeito me definir".
Agora, o jovem aguarda o andamento do processo. O acusado foi denunciado pelo Ministério Público de Alagoas (MP-AL) no dia 23 de março. Uma semana depois, a Justiça aceitou a denúncia contra o professor, tornando-o réu no processo.
"Essa notícia de que a minha voz foi ouvida, e saber que eu estou representando não só o meu caso, mas todo mundo que passou o mesmo que passei com a mesma pessoa, dá um alívio", avalia.
À época em que o caso foi denunciado à polícia, a Centauro afirmou à reportagem que "não tolera atos de violência ou discriminação e preconceito" e lamentou as agressões sofridas pelo então funcionário.