Segunda-Feira, 23 de Dezembro de 2024

Cidades rejeitam mineração da Braskem

Prefeitos, vereadores e população foram surpreendidos com autorização para exploração de sal-gema


Por Gazeta Web - Arnaldo Ferreira
Publicada em 21/09/2020 às 09:04 - Atualizada em 21/09/2020 09:31


O município de Paripueira, no Litoral Norte de Alagoas: ameaça de chagada da Braskem / Foto: Arquivo GA

Prefeitos, vereadores, pescadores, donas de casa, funcionários públicos, estudantes, ou seja, a maioria dos 30 mil habitantes dos municípios de Barra de Santo Antônio - distante 38 quilômetros de Maceió - e de Paripueira (30 km) foram surpreendidos pela Agência Nacional de Mineração, que autorizou a Braskem a pesquisar jazida de sal-gema em sete pontos desses dois municípios, para exploração futura. Além dos municípios, a autorização inclui o bairro de Ipioca, em Maceió, também no Litoral Norte.

A população promete reagir contra a decisão. Os gestores dos dois municípios dizem que recorrerão até as últimas instâncias da Justiça para impedir a mineração na região. Os dois municípios metropolitanos se tornaram refúgios de profissionais liberais, servidores públicos, empresários e aposentados que buscam qualidade de vida. Tanto que os condomínios se multiplicam. Os moradores das áreas nobres também prometem reagir contra os poços da Braskem, revelou, por exemplo, o conhecido e premiado publicitário Aloísio Alves. “Eu lembro da zona sul de Maceió e todos nós acompanhamos o drama que ocorre hoje nos bairros do Pinheiro, Bebedouro, Mutange e Bom Parto. Por isso, estamos preocupados com a possível atividade da indústria nesta região”.

Aloísio, como a maioria dos moradores de condomínio entre os dois municípios, declara “amor” pela região. Não aprova as atividades da indústria química por lá. Nas duas cidades o assunto que domina as conversas nas praças é a chegada de poços da Braskem. A preocupação é que a extração de sal-gema ocorra em reservas de manguezais e das praias, como aconteceu com os 35 poços da indústria espalhados pelos bairros do Pinheiro, Mutange, Bom Parto e Bebedouro. Os poços e minas da empresa em Maceió, segundo o Serviço Geológico do Brasil (antiga CPRM) estão desmoronando. Os bairros, esvaziados. A empresa terá que desembolsar R$ 3,3 bilhões para indenizar 7,2 mil proprietários de imóveis.

POPULAÇÃO

Pescadores como Márcio José da Silva confirmam que “todo mundo sabe que a Braskem quer perfurar poços aqui. Isto vai acabar com tudo e afetar até a nossa pescaria”. A dona de casa, Josefina Maria da Silva disse que ouviu o pessoal comentando que já estavam perfurando poços e desabafou: “Eu não quero sair do município e nem da minha casa”.

O pescador Davi Luiz dos Santos, da vizinha Barra de Santo Antônio, pensa diferente. Disse que se a indústria trouxer emprego, aceita a chegada dela. O mototaxista Zeronilson Luiz, funcionário da prefeitura local, imediatamente reagiu às declarações do vizinho. “Está maluco, homem! Você não sabe o que aconteceu nos bairros de Maceió? Quer que aconteça a mesma coisa aqui?”.

Na área comercial e na Ilha da Croa, na Barra, o assunto é o mesmo. Os moradores temem que os poços sejam instalados na foz do rio, no manguezal. Líderes comunitários, comerciantes e mototaxistas como José Carlos Peixoto cobram a conclusão dos empreendimentos turísticos e a pavimentação prometida pelo governador Renan Filho (MDB) até a praia de “Carro Quebrado”, que até agora não saiu do papel. “As obras de turismo podem barrar a chegada da Braskem”. É o que acredita também o comerciante Derivaldo dos Santos.


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